quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Reflectindo (sobre a morte do ditador líbio Khadafi).

Khadafi insere-se na longa lista de ditadores surgidos após os colapsos dos impérios coloniais nos escombros da II Guerra Mundial. No mundo árabe a maioria não apareceu logo a seguir às independências, como nos novos estados da África negra. Tomaram o poder na sequência da fraqueza das oligarquias tradicionais. Estas combateram os domínios otomano e europeu, falhando, no entanto, em estabelecer laços com as populações muito pobres - os povos indiferentes não se reviam nos projectos nacionais, cujas fronteiras haviam sido desenhados algures na Europa, segundo arbítrios coloniais. Assim, as recém-criadas forças armadas nacionais constituíram-se como verdadeiros alfobres de ditadores e das suas élites. Esses conjuntos de oficiais, com falta de raízes nacionais, mal educados e mal treinados pelos europeus, julgando-se iluminados e talvez inspirados no exemplo turco de Ataturk, deixaram-se seduzir por doutrinas sincréticas, que misturavam a heterogeneidade de um grandioso passado árabe (pan-arabismo), a crença no progresso económico ocidental (admiração pela tecnologia e conforto) e ainda em vagas ideias de cariz socialista (ataque aos previligiados e repartição mais equitativa da riqueza). Resistiram a essa epidemia os Reinos saudita, marroquino e hachemita, cada um por razões específicas, porém com as mesmas características essenciais de alicerçar as respectivas legitimidades num misto de história, religião e representatividade étnica. O "nasserismo" ou partidos "baath" (renascimento) têm esses denominadores comuns. Já a egípcia "irmandade mulçumana", mais antiga (anos vinte do século XX), representa outro tipo de ideologia, tradicionalista, inspirada em leituras e interpretações islâmicas (na sua génese rejeitava a influência da civilização ocidental, considerando-a fonte de corrupção e, consequentemente, propunha-se ser a sua alternativa). O torcionário Kadhafi foi um abdominável expoente daquele primeiro sincretismo e o que mais durou, pois bastante jovem chegou ao poder e a Líbia é quase só deserto...Resta o clã sírio Assad..e, depois, se verá...

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