quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Lataquia. (a propósito da repressão exercida pelas forças armadas sírias sobre a população daquela cidade).

O regime sírio alicerça-se na minoria "islâmica" alauita/shiita. Hoje em dia, Lataquia é a única cidade importante, onde essa comunidade é maioritária. Portanto, para melhor se comprender o que se passa na Síria, seria interessante saber-se se tropas sírias, (segundo se diz) maioritariamente constituídas por aquela minoria, estão a bombardear apenas os campos de refugiados de palestinianos e bairros habitados por sunitas e cristãos- os primeiros são claramente maioritários em quase todo o restante território sírio. As poucas e desfocadas imagens transmitidas são preocupantes, devido à presença maciça de tropas em zonas habitacionais. O regime Assad não hesita mesmo em perturbar o normal tráfico do principal porto do seu país no intuito de reprimir qualquer dissidência. Há indícios, que se está perante genocídio sistemático e friamente perpetado pelas forças armadas sírias...até quando? E a generalidade da chamada comunidade internacional assiste com tímidas condenações. A vizinha Turquia, preocupada com a sua província de Hatay, o problema curdo e com ambição de afirmação regional, constitui o único estado a ter uma atitude pró-activa. Não chega. Como a cidade de Hamas dos amorreus, a velha e próspera helénica Laodiceia (actual Lataquia) do tempo dos Seleucidas e, antes, dos hititas, merece melhor sorte. Perspectiva-se na Síria, com ou sem Assad, um sanguinário e, talvez, longo conflito étnico, semelhante ao libanês ou ao iraquiano. Serão as tribos alauitas a perder; o seu futuro poderá ser semelhante ao seu passado sob o jugo otomano.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Preocupante...(a propósito de mais encontro entre o Presidente francês e a Chanceler alemã sobre a crise financeira europeia).

O PR francês e a Chanceler alemã tiveram mais um "tête à tête" (quantas vezes por causa da crise? Nem devem saber). Se a Sra. Merkel (que me perdoe) não parecesse como parece e considerando o passado do Sr. Sarkozy, até daria para se desconfiar, como diria a minha avó...trata-se apenas de uma mera atracção política de conveniência e platónica, pois dos resultados de tantos encontros não se vê brotar nada mais do que aquilo num namoro convencional (também dos tempos dos meus avós) não passaria de umas mãos dadas sorrateiras debaixo da mesa. A economia francesa não está bem e a alemã já esteve melhor. Ambos, contudo, têm razão: é necessário que a UE, com EURO ou sem moeda única, passe a viver de acordo com aquilo que, de facto, produz e, sobretudo, os orçamentos dos estados sejam equilibrados para não se andar a "roubar" dinheiro da economia, através da contracção de empréstimos constantes. Quanto ao resto, nada se augura de bom, nomeadamente para Portugal, cuja situação financeira é muito delicada e, vergonha, dependente em excesso de Berlim/Frankfurt, Bruxelas e Washington. Uma coisa é ser-se um país integrado num determinado espaço político-económico, outra é estar-se completamente à mercê, em termos financeiros, do estrangeiro. Daí ser imperioso que o Governo Português anuncie rapidamente os cortes na despesa e os execute o mais cedo possível para que haja alguma margem negocial...ninguém ajuda Portugal se os Portugueses não se ajudarem a si próprios e os actuais governantes já não têm quaisquer alibis...

E a emigração...(a propósito de um artigo do "Expresso" sobre a reacção do produtor português Paulo Branco a um filme suiço abordando temática relacionada com a emigração na Suiça).

Da eventual polémica ao redor de um filme, num festival igual a tantos outros por essa Europa fora, fica a discussão sobre a Língua Portuguesa. Ao menos o artigo serviu para alguma coisa, para além da promoção do sr. Paulo Branco (gosta muito de se promover a si próprio como os filmes que produz,muitos-se não todos-à custa do contribuinte português). Não vi a película. Portanto não sei se deverá ser apelidada de "fascista" (vocábulo, cuja evolução semântica dava um largo estudo...). Agora, é delicado o tema da emigração em qualquer país ocidental. Provoca habitualmente controvérsias. Estas, por sua vez, são consequência de políticas mal concebidas e, muitas vezes, pior executadas. Sobressaem com frequência nesses debates, não a racionalidade, mas uma mistura de conceitos mal assimilados por parte de consciências piedosas e demagogias xenófobas, por outro lado. Algo, no entanto, parece inegável: um país deverá ter o direito de acolher ou não estrangeiros, como se passa em casa de uma família, a qual não se sente obrigada a deixar entrar qualquer transeunte, que bata à porta. Porém, é igualmente inquestionável que uma pessoa tem o direito à sua dignidade e de ser bem tratada. A Suiça, reconheça-se, não goza de fama positiva, face à questão da emigração, contudo ninguém é obrigado a emigrar para lá, que se saiba...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Evidências. (a propósito de uma síntese de artigos publicados na imprensa britânica sobre as causas dos distúrbios e pilhagens ocorridas em Inglaterra na última semana).

Correctas as múltiplas razões mencionadas nos artigos dos jornais britânicos, na tentiva de explicar a violência ocorrida em Londres e outras cidades inglesas. Parecem, no entanto, faltar duas: anos de políticas desleixadas de emigração e a irracionalidade. Em relação ao factor "emigrante"seria, talvez, interessante saber-se qual a percentagem dos jovens envolvidos na selvajaria, que se integram na primeira e na segunda gerações nascidas no Reino Unido. Possivelmente, tornaria visível a completa incorrecção das políticas sociais inglesas. Não bastou o dinheiro. Enquanto a esmagadora maioria dos pais ou avós emigrantes trabalharam no duro para se integrarem e para que a sociedade de acolhimento prosperasse, as suas famílias desenraízaram-se, que o facilitismo de subsídios, péssimas escolas e, mais tarde, a perspectiva de desemprego contribuíram para criar gente irresponsável, que julga que tudo é permitido. Assim, os aparentes actos irracionais coadunam-se com gordos e prósperos irresponsáveis, anafados pela inutilidade e exaltados pelo histerismo da destruição, daquilo que, eles próprios, mais veneram, o consumo...Finalmente, é patético assistir-se à incapacidade da polícia e dos políticos em responder de uma forma célere e eficiente à deliquência e subsequentes distúrbios.Tudo isto televisionado e, agora, reproduzido até à infinidade electronicamentre. Passou-se na capital (e não só) do Reino Unido, um G7, membro da NATO e da UE, berço do actual sistema parlamentar, do "habeas corpus", etc..francamente...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Palavras e confusão em excesso...(a propósito de declarações do Presidente dos EUA sobre a ligeira descida na avaliação financeira da "dívida" americana por parte de uma agência de "rating").

Não se compreende o Presidente dos EUA ter dúvidas quanto à nota: AAA. Não é ele quem manda...?!Claro que o seu país gozará sempre dessa tripla. Aliás, goza dessa felicidade desde 1902. Nesse glorioso ano, fundou-se em Chicago a "American Automobile Association" (a conhecida "tripleA"). Tem, hoje em dia, mais de 50 milhões de membros.Theodore (Teddy para os amigos e inspiração dos ursos de peluche "Teddy Bear") Roosevelt era então um presidente idealista, republicano e conservador. Atacou os grandes carteis económicos, mostrou inequivocamente preocupações ambientalistas e, que se saiba, foi o primeiro presidente americano a guiar um carro em público. Assim, no início do século XX, os EUA, optimistas, não temiam agências financeiras de avaliação(rating)...bem, das três famosas existia ainda apenas uma e estava longe de ser o que é na actualidade. Por outro lado, quando a América perder financeiramente a credibilidade, talvez aquelas instituições da finança mundial percam a própria razão de existência, pelo menos na forma actual e...lá se vai o negócio. Ora, não se sabe, é se a China comunista se vai rir, cantando glórias à falência do sistema capitalista ou chorar pela perda de biliões de dólares em investimentos e mercado. A Europa ficará de cara lavada em lágrimas. Seria bom que o Sr. Obama não remexesse tanto na ferida e começasse a aplicar, de maneira discreta, os indispensáveis unguentos para não se alastrar a infecção (à socapa com muito antibiótico misturado)...os mercados adoram discrição e lucro.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A "consciência" internacional...(a propósito das notícias relativas à falta de acordo sobre uma tomada de posição por parte da ONU acerca da repressão violenta perpetada pelo regime sírio sobre a própria população).

As Nações Unidas (ONU) sempre serviram para muito pouco, porventura para mostrar que os Estados não são unidos. Ah! é verdade, servem também como objectivos fracos e improdutivos e justificar vaidades e viagens de governantes portugueses sem visão e incapazes de reflexão sobre quais deveriam ser as verdadeiras prioridades da política externa. Contudo, a ONU evidencia que a "consciência" internacional tem, talvez, mais níveis do que aqueles que a psiquiatria afirma existir. E a "moral" igualmente. Assim, funciona como uma terapia de grupo, na qual a "política real" e os pragmatismos rasteiros são diagnósticos e receituários comuns. À semelhança do que acontece variadas vezes com a medicina, quando não se consegue acertar nos remédios ou mezinhas para a cura, a doença é dos "nervos" ou uma "virose". A Síria aos olhos dos países ocidentais assemelha-se a um problema viral, que convém conter. No entanto, sem grande excitação para não afectar os neurónios. Interessante ainda observar a Índia e o Brasil do mesmo lado da China e da Rússia. Distendem "músculos" (não os cérebros) para provar as respectivas existências. Depois, a UE e os EUA com a ineficiente figura projectada face à guerra civil na Líbia só encorajam esses atrevimentos das chamadas potências emergentes. Entretanto, o regime Assad, sangrento e esclerótico de 41 anos de exercício de poder, continua a massacrar os próprios cidadãos, pois as hesitações da chamada comunidade internacional são encorajadoras para a sua longevidade...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Muito preocupante (a propósito de mais um massacre perpetado pelas forças sírias, desta vez na cidade de Hamas).

O presidente da Síria, com retórica diferente, segue o caminho do pai. Não hesita em utilizar a força brutal para massacrar a própria população. É verdade que não há forma de observadores independentes ou jornalistas comprovarem as assustadoras contabilidades de vítimas mencionadas nas notícias. Algumas análises, acusam o irmão do presidente de ser a besta negra do regime, enquanto o chefe de estado estaria receptivo a reformas...indubitável é que, talvez, menos de cerca de 15% da minoria shiita/alauita exerce uma forte repressão sobre a restante população, da qual 70% são sunitas. Há poucos cristãos. Ainda, diz-se que 80% dos oficiais das forças armadas sírias são alauitas, num exército onde, entre 60% a 70% dos efectivos, pertenceriam ao mesmo grupo minoritário, contudo politicamente dominante; sobretudo após o golpe de estado de 1970, quando o partido Baas assumiu o poder absoluto em Damasco. A população de Hamas é superior a 500 mil habitantes e a cidade não dista muito da capital. Estes elementos em conjunto com relatos do uso de extrema violência nas acções repressivas mostram a ferocidade dos governantes, apontam para a inexistência de forças políticas de oposição bem organizadas e com repercussão no estrangeiro, evidenciam a habitual inércia internacional e tornam inequívoca a profunda transformação, que decorre em todas nações árabes-sendo cedo para avaliar quais as direcções dessas alterações socio-políticas nos diferentes países. Será que EUA e UE já começaram a identificar figuras para dialogar..? Indiscutível  é estar torna-se cada vez mais patente, que o estertor do regime Assad, de 41 anos, será longo e muito sangrento.