sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Cargos e responsabilidade...(a propósito de uma entrevista concedida pelo PR Cavaco Silva à CNN, por ocasião de uma visita aos EUA.)

Sobre o binómio gastos e benefícios desta viagem do PR estamos conversados. Agora, é profundamente triste ver e ouvir o chefe de estado português a defender em televisão internacional um "governo económico europeu". Também a Presidente da Assembleia da República, no outro dia, advogou a mesma solução. Em termos práticos, o que estes titulares dos mais altos cargos da hierarquia do Estado parecem propor é manter os lugares, mas passar as responsabilidades da governação para Berlim/Bruxelas. Desse modo, o Parlamento português controlaria o quê? E o Governo resultante de eleições gerais legislativas em Portugal, o que seria? Mero executante e, portanto, irresponsável pela efectiva governação económico-financeira do País? Então o que restaria? Certamente, apenas as bizarras secretarias de estado da juventude e desporto e do turismo?! Na actualidade, a margem de manobra dos estados europeus, designadamente de países como o nosso, é muita estreita. Com a incompetência das últimas equipas governamentais mais reduzida ficou. A prova indesmentível desse facto está no programa acordado internacionalmente para reestruturação financeira nacional. No entanto, ainda reside em Lisboa alguma capacidade de decisão, apesar de reconhecidamente ténue; bem ou mal, os técnicos internacionais ainda andam por cá a analisar as nossas contas e não, pelos mesmos motivos, algures na Europa central. Depois, avançar ou defender esse tipo de teses, quando Portugal está em posição tão frágil, sem poder negocial é querer passar a responsabilidade para a Sra. Merkel? Será essa a intenção!?
O controlo e a responsabilização pelos dinheiros públicos dos portugueses e respectivas contas, incluindo eventuais compromissos internacionais, devem ser obrigação exclusiva dos Governos de Portugal. Esta regra não pode ser negociável. A incompetência e trafulhices de sucessivos governos não devem constituir desculpa para se passar para o estrangeiro a condução ou gestão da globalidade das finanças públicas portuguesas. Sublinhe-se ainda que os nossos interesses não são sempre coincidentes com os da Alemanha, França, Países Baixos, Itália, etc, etc. Poderão convergir. Todavia, o encontro pontual não significa perpétua simetria. E basta de tentivas de fuga, falsas desculpas para não se pagar aquilo que se deve. Se fosse alemão perceberia perfeitamente a relutância do meu governo em assumir mais obrigações; sobretudo rejeitaria tentivas indirectas para comprometer a globalidade do orçamento alemão para contribuir para os pagamento dos excessos de despesismo dos outros países, que pretendem viver eternamente de crédito. 
As actuais propostas no sentido do reforço do "governo económico europeu" significam tentivas de muitos políticos em encontar alibis, como já o fazem sobre tantas matérias do dia-a-dia, dizendo que a "Europa" assim obriga, além de quererem pôr outros a pagar o que nós gastámos...
Haja ao menos decoro, já que se esvaiu o orgulho.   

Sem comentários:

Enviar um comentário