segunda-feira, 25 de abril de 2011

Diálogo. ( a propósito de afirmações do Papa sobre a Líbia, por ocasião do Domingo de Páscoa).

Sua Santidade o Papa Bento XVI tem toda a razão. Contudo, é impossível dialogar nesta conjuntura.
O regime líbio é torcionário. A população, há muito, perdeu confiança em qualquer simulacro de orgão de poder líbio. Depois, o sistema implantado na Líbia construíu-se ao redor de um homem, cuja paranoia hiperbólica, traduzida em caprichos e alimentada pelo dinheiro do petróleo, não oferece uma base mínima de confiança. Os chamados "rebeldes" pretendem exactamente erradicar tudo aquilo, que a família Khadafi simboliza de corrupção, repressão e arbitrariedade irracional. Aliás, muito do que motiva as populações do Magreb ao Médio Oriente é o desespero da pobreza e a ausência de alternativas socio-económicas, a existência de élites corruptas enquistadas, há décadas, no poder e, ao mesmo tempo, ver o progresso de outras nações. A globalização não é apenas económico-financeira, é também cultural, ideológica e consumista. A China e a Índia, sendo casos completamente diferentes- ambas com enormes populações-, têm evitado erupções sociais incontroláveis, em grande parte consequência da capacidade em aumentar o bem-estar dos respectivos povos. Para a generalidade dos árabes tem sido escassa a melhoria das condições de vida, sobretudo nos países mais populosos. Dialogar com o estômago meio vazio e sem liberdade é, talvez, pedir demasiado a milhares de pessoas confinadas em centros urbanos caóticos e insalubres.Tragicamente, muitas mortes ocorrerão, antes do triunfo do diálogo.

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