sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sem surpresa...

Não são surpreendentes os protestos, incidentes e tragédias, que estão acontecendo do norte de África ao Golfo Pérsico. Todavia, desiludam-se aqueles, que pensam em manhãs esplenderosas de democracia das colinas de Hércules aos planaltos persas. A História nunca foi unívoca. No calendário islâmico, estamos no século XV. Na Europa, quinhentos anos atrás, o Renascimento expandia-se por todo o ocidente, as monarquias nacionais procuravam alicerçar-se, a Igreja Católica desprestigiava-se, em síntese, as sociedades feudais agonizavam. Contudo, os seus actores não tinham a percepção clara dessa agonia e, sobretudo, nunca poderiam vislumbrar de forma concreta o devir desses acontecimentos. No início da presente centúria, o que se prova, por agora, é que as sociedades daquelas regiões, aparentemente imobilizadas, também não são indiferentes à "globalização": aumento dos preços de matérias primas e bens alimentares; informação constante e ensurcedora; meios electrónicos de acesso fácil, presentemente quase incontroláveis; e a regimes políticos oligárquicos e corruptos. O resultado, de momento, é incógnito e não haverá apenas um, mas vários e contraditórios devido a múltiplas variáveis: demografia, potencialidade de riqueza, forças sociais e religiosas, militares e aparelhos de segurança, políticos e ainda a chamada "comunidade internacional" e respectivos meios de informação. A evolução não será linear.
Neste contexto, o caso da Líbia poderá ser especialmente interessante: país rico (segundo consta com 2% das reservas mundiais de petróleo) pouco populoso, mas com forte densidade urbana e um líder sanguinário e perigoso, cuja imagem internacional vai da paranoia à comicidade. A UE e os EUA, amigos de recente data de Kadhafi, mostram-se parcos nos comentários e, ao contrário do egípcio Mubarak, não o aconselharam ainda a conter a terrível máquina repressiva líbia. Terão receio de fundamentalistas islâmicos, esquecendo-se que Muhamar Kadhafi foi dos primeiros chefes árabes a agitar, freneticamente, o pendão islâmico para combater o Ocidente? Ou serão apenas os interesses económicos e petrolíferos a aconselhar uma atitude pragmática e cautelosa, face aos já vinte e quatro mortos, que a resposta violenta das forças de segurança líbias provocaram entre a população que protestou?!
O regime líbio talvez ainda sobreviva a esta vaga, mas está agonizante, exactamente como as sociedades feudais ocidentais no século XV.

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